Quando eu fazia faculdade de Letras (UFC), eu gostava mais da Literatura Portuguesa, especialmente do Realismo. Amo Eça de Queirós e prefiro mil vezes "O Primo Basílio" ao "Madame Bovary", de Gustave Flaubert - embora o Eça tenha se inspirado neste último, saiu melhor! Mas tinha um escritor português simbolista que eu me identifiquei demais, chamado Camilo Pessanha. Ele não é famoso, para quem não é estudioso (ou amante) da literatura, mas era perfeito nos símbolos, nas matáforas. Hoje me lembrei de alguns versos do seu poema "Estátua" e resolvi postá-lo todo. É lindo!
Estátua
Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, --- frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado...
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
(Camilo Pessanha)
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