Lauro Corona

Eu lembro que, quando criança, eu assistia a novela "Direito de amar", com a babá enquanto minha mãe não chegava do trabalho e o galã era o Lauro Corona (foto). Eu o achava lindo, parecia um príncipe daqueles saídos das histórias infantis q liam pra mim! Eu nunca tinha visto um homem tão lindo, nem na tv, nem pessoalmente e, embora criança ainda, imaginava que um príncipe deveria ser daquele jeito, sem tirar nem pôr. Lembro que ele era delicado, gentil, traços angelicais  e fazia par romântico com a Glória Pires.

Dois anos depois de Direito de Amar, ele faleceu, em decorrência da AIDS. Fiquei triste na época, lembro q foi como se o conhecesse e até hoje eu não esqueço dele... Ele faz parte dos meus sonhos infantis, de menina sonhadora, que inventava um continho de fadas na cabeça toda vez q ele aparecia na novela, então a morte dele realmente me marcou e hoje, vinte anos depois da sua morte, me peguei buscando informações sobre a sua vida e morte, familiares, vídeos. Ele morreu com 32 aninhos apenas, no auge do sucesso e da beleza. Quando eu estava grávida, cogitei no nome do meu filho ser Lauro, inclusive. Não por causa exclusiva desse ator, claro, mas também por ele. Fico tristíssima ao lembrar e vi fotos suas na fase terminal da doença q me abateram muito, porque mesmo quase morto, ele continuava belo. Queria muito que a Rede Globo reprisasse essa novela (ele fez muitas outras, mas essa em especial eu acompanhei), porque vale mesmo a pena ver de novo, não essas novelas bobas e recentes q passaram um dia desses e q a emissora teima em reprisá-las. Aqui uma foto dele com a Glória Pires nessa novela:


E agora, uma foto sua na capa de uma revista, na fase terminal da sua doença. Mesmo morrendo, repito q ele continuava belo. Li que ele negava veementemente AIDS e que se tratava com homeopatias contra doenças oportunistas. Li ainda que ele, mesmo com 40 graus de febre, foi ser par de uma debutante e que foi sorrindo e sendo gentil com todos. Isso me partiu o coração. Estou saudosa hoje, saudosa dos anos 80 e das pessoas daquele tempo que já não existem.


Por fim, um vídeo feito por um fã do Lauro, em sua homenagem, q ficou ótimo e a música do fundo é o Lauro Corona mesmo cantando. Vi o vídeo na comunidade do ator no Orkut:

E se...?

Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (Unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito "sim", dito "não", ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...


Agora mesmo, neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz, aliás, o nome do bar é Imaginário, sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:


- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo. E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo. Por quê? Sua vida não foi melhor do que a minha?

- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...


- Eu sei, eu sei... disse alguém sentado ao lado dele. Olhamos para o intrometido. Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou: - Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.

- Como é que você sabe?



- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um "herói", me atirei. Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante...

- Ele chutaria para fora.

- Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou:
- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e agora com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio ...

- E o que aconteceu? perguntamos os três em uníssono.

- Lembra aquele avião da VARIG que caiu na chegada em Paris? Morri com 28 anos.


- Bem que tínhamos notado sua palidez. Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo...

- E ter levado o chute na cabeça...

- Foi melhor, continuou, ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado...



- Você deve estar brincando disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.

- Quem é você?


- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público.

Vi que todas as banquetas do bar, à esquerda dele, estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra. As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração.


Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça,tristemente.


Só então notei que ele também tinha a minha cara, só que com mais rugas.

- Quem é você? perguntei.


- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.


- E? Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo...


SUA VIDA NÃO É DECISÕES QUE VOCÊ NÃO TOMA, OU AS ATITUDES QUE VOCÊ NÃO TEVE, MAS SIM , AQUILO QUE FOI FEITO! SE BOM OU NÃO, PENSO, É MELHOR VIVER DO FUTURO QUE DO PASSADO."

(Luiz Fernando Veríssimo)